Habitação popular e os modos de morar modernos:
Conjunto Governador Juscelino Kubitschek
Angela Cristiane Fagundes (1) Raquel
Rodrigues Lima (2)
(1) Acadêmica da FAU, PUCRS,
Brasil. E-mail: angela.fagundes@acad.pucrs.br
(2) Professora do Dep. de
História da FAU, PUCRS, Brasil. E-mail: raquel.lima@pucrs.br
Resumo: No final do século XIX a habitação precária começa a ser um problema
no Brasil. O crescimento demográfico gera a aglomeração de trabalhadores mal
alojados. A saúde pública torna-se uma ameaça. A reforma nos espaços através de
um código de posturas fez-se necessária, ocasionando uma nova forma de morar.
Foi significativo o impacto da ação governamental em algumas cidades
brasileiras, embora, de uma forma geral, a necessidade fosse muito maior. A iniciativa
privada buscou atender a demanda excedente, produzindo uma série de conjuntos
habitacionais. A arquitetura moderna contribuiu para a renovação das tipologias
de projetos, processo construtivo, implantação urbanística e modos de morar
modernos surgem no século XX, em diferentes fases e níveis de desenvolvimento,
com características gerais e específicas com relação às diversas realidades
culturais, sociais, econômicas e políticas. O presente artigo possui como
objeto de estudo a análise do projeto de Oscar Niemeyer para o Conjunto
Governador Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte. O objetivo é a reflexão
acerca da habitação popular brasileira moderna através do estudo de caso, na
busca de instrumentos e alternativas que possam ser utilizadas como possíveis
referenciais para novos projetos.
Palavras-chave: Habitação popular brasileira; arquitetura moderna; modos de morar.
Abstract: In the late nineteenth century the precarious
housing starts to be a problem in Brazil. Population growth demographic agglomeration
of poorly housed workers. Public health becomes a threat. The reform in the
spaces through a code of postures was required, causing a new way of living.
Was significant the impact of government action in some Brazilian cities,
although, in general, the need was much greater. Private initiative sought to
meet excess demand, producing a series of housing projects. Modern architecture
contributed to the renewal of project typologies, building process, deployment
and urban modes of modern living emerge in the twentieth century, at different
stages and levels of development, with general and specific features with
respect to different cultural realities, social, economic and policies. This
article has as its object of study design reviews of Oscar Niemeyer for Conjunto
Governador Juscelino Kubitschek, in Belo Horizonte. The aim is to reflect on
the modern Brazilian popular dwellings through the case study in search tools
and alternatives that can be used as references for potential new projects.
Key-words: Brazilian popular dwellings; modern architecture; ways of living.
1. INTRODUÇÃO
Novos modos de morar modernos surgem
no século XX, em diferentes fases e níveis de desenvolvimento, com
características gerais e, ao mesmo tempo, específicas com relação às diversas
realidades culturais, sociais, econômicas e políticas. O presente artigo faz
parte de uma pesquisa mais ampla, possui como objeto de estudo a habitação
popular produzida no Brasil com qualidades arquitetônicas visíveis, entre o
período de 1945 e 1960. A investigação tem como objetivo geral levantar aportes
teóricos e sistematizar análises de estudos de casos de edifícios de habitação
popular produzida no Brasil, que possam ser utilizados como possíveis
referenciais para novos projetos, resguardadas as suas especificidades e
contextos. A partir do levantamento de alguns projetos significativos, serão
apresentados os estudos, seguidos de uma matriz de análise, do seguinte
projeto: Oscar Niemeyer para o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, em Belo
Horizonte, Minas Gerais.
O tema é complexo e exige
aprofundamento. No intuito de apresentar uma breve introdução, alguns dados
referentes às cidades brasileiras do final do século XIX tornam-se relevantes,
principalmente quando se trata das transformações urbanas que se intensificaram
nos grandes centros. Na cidade de São Paulo, por exemplo, identifica-se o
aumento da população, sendo a chegada de imigrantes um dos importantes fatos
determinantes para a elevação da densidade, o que causa a expansão descontrolada
da malha urbana. A habitação existente neste momento era precária e insalubre.
As condições do meio, como a topografia e a falta de saneamento adequado,
favoreceram a proliferação de epidemias, fato determinante para uma intervenção
higienista (BONDUKI, 2011, p. 33).
Dentro deste contexto, o governo deu
início a políticas de estímulo à iniciativa privada, com o intuito de atender a
demanda do setor imobiliário, por meio de incentivos ficais e oportunizando a
alternativa de ofertas de casas rentitas. Assim, a partir de 1930, começa a
consolidar-se uma nova abordagem sobre o tema da habitação social, sendo
entendido como um tema multidisciplinar, ou seja, compreendendo diferentes
campos do conhecimento, tais como: sociologia, política, filosofia, economia,
engenharia e arquitetura.
Outra importante
iniciativa neste panorama ocorreu também por parte do poder público que procurou
fortalecer os órgãos governamentais - Fundação da Casa Popular, Carteiras
Prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensão e Departamento de Habitação –
com o mesmo objetivo de suprir a necessidade de habitação. A partir desse
momento, surgem diversas iniciativas de implantações de projetos de grande
porte, configurando-se em uma das inovações destes empreendimentos, com número
de unidades habitacionais acima de 2000 unidades, num cenário onde o máximo era
de 200 habitações.
Projetos
brasileiros adquirem visibilidade internacional, como é o caso do Conjunto
Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conhecido como Pedregulho, iniciativa
essa proveniente do poder público. O Conjunto Habitacional Pedregulho
insere-se, portanto, no quadro de outras iniciativas realizadas com os recursos
dos Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs, no âmbito do Departamento de
Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal. Este Departamento
notabilizou-se por implementar uma série de projetos com características
semelhantes ao Pedregulho, entre os quais podem ser lembrados o Conjunto
Residencial do Realengo, do arquiteto Carlos Frederico Ferreira; o projeto para
a Vila Guiomar, em Santo André, de Carlos Frederico Ferreira (1949); o Conjunto
Residencial Passo d'Areia, em Porto Alegre, de Marcos Kruter e Edmundo
Gardolinski (1946); o Conjunto Habitacional da Gávea, também de Affonso Eduardo
Reidy (1954), e o Conjunto Residencial de Vila Isabel, de Francisco Bolonha
(1955).
O presente artigo busca uma reflexão a respeito da habitação popular
brasileira moderna, período de importantes contribuições urbanísticas e
arquitetônicas, e possui como objeto de estudo a análise do projeto de Oscar
Niemeyer para o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek (1951), em Belo
Horizonte, exemplo da iniciativa privada.
2. OBJETIVOS DA
PESQUISA
O presente trabalho aborda a
pesquisa em curso Arquitetura da
Habitação Popular: alguns estudos de casos sobre os modos de morar e possui
como objetivo geral a busca de dados, a análise e a reflexão sobre instrumentos
e alternativas que possam ser utilizadas como possíveis referenciais para novos
projetos. O objetivo central está na reflexão acerca da habitação popular
brasileira moderna através do estudo de caso do projeto de Oscar Niemeyer para
o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
2.1. Objetivo Geral:
Estimular a busca de
alternativas para a produção de habitação de interesse social nos dias de hoje,
a partir da investigação de exemplos da Arquitetura Popular Moderna,
especificamente do projeto de Oscar Niemeyer para o Conjunto Governador
Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
2.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos da
pesquisa, originária do presente artigo, são:
a) fundamentação do tema a
partir do estudo de aportes teóricos sobre a Arquitetura da Habitação Popular,
produzida no Brasil, no período entre 1945 e 1960;
b) investigação, seleção e
catalogação de estudos de casos da Arquitetura da Habitação Popular Brasileira;
c) desenvolvimento de uma
matriz de análise de projetos paradigmáticos da habitação brasileira;
d) reflexão sobre as possíveis
características de identidade dos exemplares selecionados sobre os modos de
morar modernos, especificamente, na obra do Conjunto Governador Juscelino
Kubitschek;
e) participação em eventos
científicos na área do conhecimento.
3. JUSTIFICATIVA
O aprofundamento do estudo da
arquitetura da habitação coletiva popular é fundamental por vários motivos. Um
dos aspectos motivadores no momento atual é o panorama brasileiro que
apresenta, por um lado, um grande déficit habitacional para diferentes grupos
sociais da sociedade; e, por outro lado, um representativo investimento por
parte do governo federal por meio de programas destinados a financiar a casa
própria para esse contingente.
No caso da Arquitetura
Moderna, a tipologia de habitação coletiva contribuiu, significativamente, para
a renovação de implantações urbanísticas, projetos arquitetônicos, processos
construtivos, implementação de programas habitacionais e inovação nos modos de
morar. Algumas das principais propostas urbanísticas seguiam tendências de
Ebenezer Howard com a Cidade Jardim; e de Le Corbusier, com a cidade moderna
exemplificada pela Unidade de Habitação de Marselha. Seguindo as recomendações
do 2º CIAM (1929, Alemanha, Unidade de Habitação Mínima), valorizava-se a
célula da moradia e os equipamentos coletivos, ou seja, funções domésticas
transferidas aos equipamentos sociais e comunitários, tais como lavanderias
coletivas, creches, salas de reuniões, etc.
“A habitação tornava-se a
parte mais importante da cidade, inseparável dos espaços de recreação e demais
equipamentos como assistência médica, ensino, comércio, transporte. [...]
forjavam maneiras de convivência entre seus habitantes: do controle da célula
habitacional às áreas livres. [...] O projeto desses espaços buscava ordenar as
relações sociais, a vida comunitária, afetando o sentido de privacidade e
coletividade de seus moradores.“ (SEGAWA, 2010, p. 121)
As vivências tradicionais
urbanas mantêm-se presentes nos modos de viver da cidade moderna, com algumas
alterações. Conforme CERTAEU (1996, p. 42), o bairro tradicional seria uma
ampliação da habitação, onde a soma das trajetórias utilizadas pelos usuários,
a partir do sua moradia, poderia se configurar em uma superfície urbana
transparente para todos ou estatisticamente mensurável. Desta forma, o bairro e
moradia teriam, cada um deles, os limites que lhes são próprios, e a taxa de
controle pessoal. O bairro seria um espaço de uma relação com o outro como ser
social, onde o ato de sair de casa e andar pela rua, seria efetuar um ato
cultural.
A presença da modernidade, nas
grandes cidades, oferecia uma nova possibilidade de habitar, um habitar
moderno, que incluiria uma nova visão de bairro, concentrada, talvez, em grandes
edifícios de apartamentos que, além de indicar maneiras de convivências entre
seus habitantes, situavam-no num patamar do progresso da época. Conforme
Segawa, o urbanismo moderno teria criado espaços urbanos com essas
características:
“Os conjuntos residenciais forjavam maneiras
de convivências entre seus habitantes: do controle da célula habitacional às
áreas livres, o projeto dos espaços buscava ordenar as relações sociais, a vida
comunitária, afetando o sentido de privacidade e de coletividade de seus
moradores. É inegável a vocação educadora desses espaços, o imprimir uma moral
inerente à doutrina do urbanismo moderno.” (SEGAWA, 2010, p. 121)
O estilo de vida metropolitano
situava os habitantes no progresso crescente das cidades da metade do século
XX, implicando na oferta de um status social próprio do habitar moderno,
conforme Passos:
“Morar num edifício de
apartamentos parecia significar participar desse vertiginoso e crescente
progresso, enfim ter um estilo de vida metropolitano, o que se colocava
implicitamente como um fator de status social [...] A nova forma de habitar era
também vista como restritiva a imaginação e empobrecedora das experiências
existenciais e simbólicas do espaço, principalmente para as crianças.” (PASSOS,
1998, p. 25)
Ainda fazem parte desse
cenário as células habitacionais, unidades mínimas de moradia, que possuíam uma
concentração das funções básicas, mas que deveriam atender às necessidades do
morar moderno. Teixeira cita a expressão Máquina
de Morar como fundamental característica do morar moderno:
“A Máquina de Morar, um dos
maiores slogans do Movimento Moderno, é a célula habitacional tratada como mais
um elemento utilitário dos tempos da produção em massa; enquanto a unidade de
habitação é o conceito que incorpora a repetição de células habitacionais em um
só bloco com várias funções auxiliares, como playground, cinema, lojas,
padaria, etc.” (TEXEIRA, 1998, p. 210)
A Arquitetura Moderna, por
meio dos novos modos de morar, apresenta a tipologia de habitação coletiva como
contribuição às diferentes formas de morar, renovando as alternativas de
implantação urbanística, projetos arquitetônicos, processos construtivos e
implementação de programas habitacionais.
4. MÉTODO EMPREGADO
A pesquisa segue os critérios de um trabalho teórico, conforme o
seguinte procedimento metodológico: a) pesquisa bibliográfica em livros,
revistas e ambiente virtual; b) seleção de projetos de habitação popular, no
período entre 1945 a 1960; c) organização do material referente a cada exemplar
através de fichas de catalogação de projetos arquitetônicos e urbanísticos e
imagens fotográficas; d) análise arquitetônica por meio de uma matriz de
análise com o foco de identificar os modos de morar por meio do contexto
histórico, da implantação dos projetos em lotes urbanos, da funcionalidade das
edificações e das características formais, compositivas e de caráter.
O levantamento
de dados e estudos de casos por meio de análise arquitetônica de exemplares da
arquitetura da habitação popular, produzida no Brasil, nos anos de 1950 e
décadas seguintes do século XX, teve início na pesquisa bibliográfica. A partir
do panorama amplo de exemplos de conjuntos habitacionais do período,
selecionou-se alguns exemplares a serem estudados (Tabela 01).
OBRA
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ARQUITETO
E
EQUIPE
|
CARACTERÍSTICAS
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LOCAL
|
DATA
DE
PROJETO
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Conjunto Residencial
Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)
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Arquiteto Affonso
Eduardo Reidy;
Engenheira Carmen
Portinho;
Paisagismo
Roberto Burle Marx;
Painéis
de Candido Portinari, Burle Marx e Anísio Medeiros.
|
Conjunto habitacional vertical, com complexo plano urbanístico,
contendo espaços de lazer, conveniência e serviços, tais como: creche, posto
de saúde, ginásio esportivo, escola, lavanderias coletivas, igreja.
É constituído por sete edifícios: três
residenciais, quatro de serviço e áreas de lazer e piscina.
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Rio de Janeiro (RJ)
|
Data de Projeto:1946
Data de Entrega:
1947/58
|
Conjunto Residencial da Gávea
(Conjunto
Residencial Marquês de São Vicente)
|
Affonso Eduardo
Reidy
|
O projeto original previa a construção de 748
apartamentos, creche, escola primária e secundária, playground, mercado,
lavanderia, posto de saúde, igreja, teatro, campos de esportes, administração
e um departamento de serviço social. Só o bloco principal, as lavanderias e o
posto de saúde foram construídos. Atualmente são 308 apartamentos, cerca de
1500 moradores, seis porteiros e não possui elevadores.
|
Rio de Janeiro (RJ)
|
Data de Projeto:1952
|
Conjunto Residencial do Realengo
|
Carlos Frederico
Ferreira
|
Conjunto habitacional com cerca de 2.000 habitações, faz parte de uma
série de projetos de habitação, realizado pelo Instituto de Aposentadorias e
Pensões dos Industriários (IAPI).
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Rio de Janeiro (RJ)
|
Data de Projeto:1940
Data de Entrega:1943
|
Conjunto Governador Juscelino Kubitschek (CGJK)
|
Arquiteto Oscar
Niemeyer
Cliente: Governo do
Estado de Minas Gerais
Cálculo estrutural:
Joaquim Cardoso
Incorporador:
Joaquim Rolla
|
Um edifício dividido em dois blocos de 26 e
36 andares, com cerca de 1090
apartamentos, assume-se como lugar de moradia
permanente, serviços rodoviários, de hotelaria, funcionalidade moderna com
amplo espaço para convivência, restaurantes, museu de arte, boate, teatro,
cinema, etc. Previam-se apartamentos com diversas tipologias como
duplex, semi-duplex em vários tamanhos, kitchenettes com facilidades de hotel.
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Belo Horizonte (MG)
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Data de Projeto:1951
Data de Entrega: 1953
– 1970
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Edifício Copan
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Oscar Niemeyer
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Conjunto de implantação na área central da cidade, possui cerca de 1220
apartamentos de diferentes tamanhos e programas organizados em setores
estanques, com ingressos e circulação vertical separados uns dos outros. Incluía
serviços de hotel, lazer, comércio e área livre em um amplo terraço jardim;
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São Paulo (SP)
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Data de Projeto:1951
Data de Entrega:1971
|
Edifício Nações Unidas
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Abelardo de Souza
|
- Implantação: esquina com a Avenida Paulista;
- Programa de múltiplas funções: comércio, serviços e residências;
- Setor de escritórios isolados em um bloco vertical e os setores
residenciais não se articulava entre si;
- Três tipos de apartamento, de 1, 2, 3 dormitórios;
|
São Paulo (SP)
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Data de Projeto:
1952/53
Data de Entrega:1959
|
Edifício Holiday
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Joaquim de Almeida
Marques Rodrigues
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Bloco semicircular, implantado no centro de um lote trapezoidal de
esquina, localizado em área pouco consolidada da cidade de então, propunha
vários serviços que viabilizaram a moradia permanente de famílias na área.
Estavam previstos, em edifícios anexos, um centro de abastecimento e uma área
para restaurante. No térreo, localizavam-se as lojas e o acesso aos
apartamentos.
|
Recife (PE)
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Data de Projeto:1958
|
Edifício Holiday
|
Joaquim de Almeida
Marques Rodrigues
|
Bloco semicircular, implantado no centro de um lote trapezoidal de
esquina, localizado em área pouco consolidada da cidade de então, propunha
vários serviços que viabilizaram a moradia permanente de famílias na área.
Estavam previstos, em edifícios anexos, um centro de abastecimento e uma área
para restaurante. No térreo, localizavam-se as lojas e o acesso aos
apartamentos.
|
Recife (PE)
|
Data de Projeto:1958
|
TABELA 01: Conjuntos Habitacionais do período
de 1945 à 1960.
FONTE: Tabela elaborada por Angela Fagundes, 2013.
Com a finalidade de iniciar a reflexão a respeito da habitação popular
brasileira moderna, a partir do univerno pesquisado – conforme tabela 1 -, no período
de importantes contribuições urbanísticas e arquitetônicas, a seguir
apresenta-se como objeto de estudo a análise do projeto de Oscar Niemeyer para
o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek (1951), em Belo Horizonte, exemplo da iniciativa privada.
5. RESULTADOS
O Conjunto Governador Jucelino Kubitschek, situado ao endereço da Rua
Guajajaras número 1268, no Centro de Belo Horizonte, foi projetado pelo arquiteto
Oscar Niemeyer, tendo o responsável pelos cálculos estruturais Joaquim Cardoso,
a partir da solicitação do Estado de Minas Gerais, governado neste momento por
Jucelino Kubitschek, com a incorporação de Joaquim Rolla.
A seguir será apresentada a cidade de Belo
Horizonte; o entorno imediato ao Conjunto, que é constituido pela Praça Raul
Soares; o quarteirão e o edifício; e por fim, as unidades habitacionais.
5.1.Cidade: Belo Horizonte
Após longa e minunciosa pesquisa a respeito
do lugar, geografia, topografia e vários condicionantes de ordem higienista, o
engenheiro Aarão Reis a localização da atual cidade de Belo Horizonte para a
nova capital mineira. A Ouro Preto, com suas ruelas estreitas e insalubres por
falta de ventilação e circulação adequada, não comportava mais as aspirações da
nova elite republicana (PIMENTEL,1989 p. 16).
“Aarão Reis, engenheiro, administrador, ardoroso fã
da cidade de Washington, da Paris de Hausmann e do esquadro de 45°, trabalharia
com todo calculismo necessário para erguer uma cidade moderna e com absoluta
confiança no poder da engenharia” (TEIXEIRA, 1998, p. 65).
A capital planejada sofre influências do
urbanismo da Paris de Hausmann, com seu traçado regular e forma de malha
ortogonal, facilitando a higiene bem como rotas militares (FIGURA 1).
5.1.Entorno: A Praça
Raul Soares
Em meio ao caos urbano do grande centro,
junto à Praça Raul Soares (FIGURA 2 e 3), situada na confluência de quatro
importantes avenidas: Olegário Maciel, Augusto de Lima, Amazonas e Bias Fortes,
destaca-se na paisagem o imponente Conjunto Governador Jucelino Kubitschek, com
seus amplos panos de vidro e concreto aparente e seus pilares singulares.
A Praça Raul Soares constitui-se
uma rótula e é uma das principais praças de Belo Horizonte, construída em conforme
os padrões do paisagismo francês, tombada pelo IEPHA (Instituto Estadual de
Patrimônio Histórico e Artístico). Além do Conjunto, no entrono imediato à
praça também está localizado o Mercado Central.
FIGURA 2 – Vista aérea da
Praça. Fonte: Google maps
FIGURA 3 – Praça Raul Soares.
Fonte: Fotos de Angela Fagundes
5.1.Conjunto Governador
Jucelino Kubitschek
O Conjunto incorporava a utopia moderna de
modificação do modo de vida da sociedade, trazia a influência decisiva sobre os
modos de morar e viver das populações urbanas, carregando seus desejos e
aspirações, inclusive ordenando e determinando o seu convívio social.
É possível identificar no conjunto os signos
do maquinismo, do domínio tecnológico, da padronização, da produção seriada da
funcionalidade, típicos do Movimento Moderno. É possíivel ainda identificar
quatros dos cinco pontos da arquitetura moderna citados por Le Corbusier: os
pilotis, a planta livre, a janela horizontal e a fachada livre (FIGURAS 4 e 5).
O Conjunto destacava-se por
ser uma edificação de grande porte (FIGURAS 6 e 7) – a mais alta da cidade – e
com um programa complexo e inédito para a cidade de Belo Horizonte. A Unidade
de Habitação de Marselha constituiu-se em um dos importantes referenciais para
Niemeyer, embora tenha sido construído na zona central em processo de
verticalização.
FIGURA 4 e 5
– Detalhes dos pilares. Fonte: Fotos de Angela
Fagundes
FIGURA 6 e 7
– Conjunto Governador Jucelino Kubistschek. Fonte: Fotos de Angela Fagundes
5.3.1 Quarteirão e o Conjunto
A implantação do conjunto ocorre através da divisão
em dois blocos, um de 23 e outro de 36 andares; é feita de modo que os
equipamentos coletivos estão dispostos nos primeiros pavimentos, formando duas
bases e duas torres. Uma das bases ocupa toda extensão do quarteirão (120
metros, máximo de quarteirão de Aarão), conforme FIGURA 8.
FIGURA 8 – Implantação do Conjunto. Fonte: MACEDO,
2008, p.443
Previam-se no
Conjunto Governador Jucelino Kubitschek repartições públicas estaduais, estação
rodoviária, mercado municipal, museu de arte moderna, restaurantes, boate,
lojas, hotel, praças de esportes e jardins. As duas torres eram compostas por
oito tipologias diferentes de plantas e a ligação entre os blocos ocorre
através de uma passarela acima do nível da Rua Guajajaras.
FIGURA 9 e 10 – Circulação horizontal. Fonte:
MACEDO, 2008, p.457.
FIGURA 11 e 12 – Circulação vertical. Fonte: MACEDO,
2008, p.456.
Em ambas as torres uma forte característica é a
identificação das circulações: tanto horizontal, através da distribuição em
fita dos apartamentos, ao longo de um extenso corredor central, semelhante à
rua interna da Unidade de Habitação de Marselha (FIGURAS 9 e 10); quanto da
circulação vertical, que é demarcada em planta baixa da torre mais alta, através
de um terceiro volume prismático de base triangular (FIGURA 11 e 12).
“A circulação horizontal, além de ser longa e quase
sempre vazia, conta com o agravante da falta de iluminação natural. Já na
circulação vertical, os halls de espera dos elevadores são peles de vidro, não
raro com algumas peças quebradas. E por fim, a escada de serviço em caracol
acentua de forma assutadora a nossa insignificância frente a sua estrutura tão
imensa.” (PIMENTEL, 1989, p. 6)
As fachadas são amplos
panos de vidro, definidas através de módulos, sendo a base de 3,16 metros de
largura, o que definirá os tamanhos dos apartamentos (FIGURAS 13 e 14). Sendo
assim, há o módulo de apenas um quarto (de hotel), seguindo as caracteristícas
corbusianas de células mínimas de habitação, até o apartamento de cinco
módulos, ou seja, de três quartos.
FIGURA 13 e 14 – Detalhes da fachada. Fonte: Fotos de
Angela Fagundes
5.3.2 Unidades Habitacionais
Nas unidades habitacionais podemos observar a
máquina de morar nos apartamentos
pequenos com espaços mínimos para suas funções. Nas menores unidades estava
previsto apenas um quarto, sem cozinha, ou sem área de serviço, já as mesmas que
estariam à disposição nos equipamentos coletivos, como lavanderias,
restaurantes, serviços de hotel. A diversidade de modelos de tipologias deve-se
ao caráter do modernismo, visto que, anteriormente a configuração disponivel,
era de apartamentos padrão, ou seja, uma planta baixa tipo para todos os
pavimentos, com um ou no máximo dois modelos de apartamentos diferentes. Em
relação a essa diversidade de plantas de apartamentos, observa-se as seguintes
tipologias: a) Apartamento Tipo 1: é composto por um quarto sem copa (corresponde
a um módulo de 3,16 metros), ocupa os três primeiros pavimentos do Bloco A; b) Apartamento
Tipo 2: é composto por um quarto e sala com banho e espaço para geladeira,
ainda não apresenta uma cozinha propriamente dita. (corresponde a dois módulos
de 3,16 metros); c) Apartamento Tipo 3: comporto
por dois quartos, sala, banheiro e cozinha (corresponde a três módulos de 3,16
metros); d) Apartamento Tipo 4: composto por dois quartos, sala, banheiro,
cozinha, área de serviço e dependência de empregada (corresponde a quatro módulos
de 3,16 metros); e) Apartamento Tipo 5: Este
é o maior apartamento, composto po três quartos, sala, banheiro, cozinha, área
de serviço e dependência de empregada (corresponde a cinco módulos de 3,16 metros).
E ainda identificam-se mais três tipologias que se interelacionam: a) Apartamento
Tipo A: É um semi – duplex dividido em dois meios níveis com sala e cozinha
junto à entrada, e quarto e banheiro acima; b) Apartamento Tipo B: praticamente
um quarto de hotel, com uma pequeníssima copa decorrente da conciliação em corte
entre o desnível do Tipo A; c) Apartamento Tipo C: É apenas um quarto de hotel,
(13,9m²), sem copa, que ficava nos andares alternados, no mesmo nível de
entrada do apartamento Tipo (MACEDO, 2008, p.247)
5. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
O objetivo de Oscar Niemeyer e Jucelino Kubitschek era
repetir o sucesso da Pampulha. Pampulha projetou o nome de Niemeyer para o
mundo e consagrou Jucelino na Prefeitura. O intuito agora, com a construção do
Conjunto Governador Jucelino Kubitschek, era de repetir o sucesso enquanto
governo estadual. A expectativa deles era tamanha ao ponto de os impressos da
época falarem que seria a “marca registrada” de Belo Horizonte, com a pretensão
de ser o que é a Torre Eiffel é para Paris.
O modernismo tentava impor seus modos de morar, com
pretensões de transformar os cidadãos em produtos resultantes da revolução industrial,
produzidos em série, mas não foi o que ocorreu na prática: houve a falência do
incorporadora e, em razão disso, a obra foi assumida pelo governo do estado. Porém,
nesse tempo, foi o início da repressão do governo militar e, com isso Conjunto
Governador Jucelino Kubitschek passa a representar uma arquitetura suspeita, principalmente
pelo fato do organizar uma planta baixa constituída por grupos diversos da
família tradicional, ou ainda pela posição política de Niemeyer.
Algumas alterações no projeto
original foram realizadas quando o governo assumiu a execução do Conjunto. Onde
estava previsto um Museu de Arte Moderna, por exemplo, foi ocupado por uma
delegacia de polícia, a qual encontra-se no mesmo local nos dias de hoje. O
terminal rodoviário serve como terminal turístico, não atendendo a população da
edificação. O teatro, os cinemas, o hotel e o clube, não foram construídos, ou
seja, os símbolos de status, de modernidade ficaram no papel.
“O curioso é que JK e seu aspecto de estigma da modernidade, suas
ocorrências policiais e sua aura de condensador desgovernado carrega também a
fórmula do maior êxito imobiliário dos nossos dias. O que era um sonho de
arquitetos na década de 20 tornou-se modelo concretizado a partir da década de
40 e 50; e essa mesma fórmula virou pesadelo nos anos 70 em todo mundo.
Demolições em série, crítica ao aspecto desumano da arquitetura, repúdio a um
programa que tinha chegado para propor uma revolução social. Junto com o JK,
toda a relação entre arquitetura e sociedade entra em crise a ponto da morte da
arquitetura moderna ser decretada simbolicamente por um crítico” (TEXEIRA, 1998,
P. 230).
O edifício representa toda a ingenuidade, o otimismo e
o exagero do seu tempo. Embora abrangesse diferentes grupos sociais, a
apropriação do Conjunto não coincidiu com o público alvo do projeto, a classe
média, então emergente.
referências
BONDUKI, Nabil. Origens da
habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
BOTEY, Josep Ma. Oscar
Niemeyer. Barcelona: Editora GG, 1996.
CERTEAU, Michel de. A
invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1996.
GOOGLE MAPS. https://www.google.com.br/maps.
Acesso em 06/4/2014.
MACEDO, Danilo Matoso. Da
matéria à invenção. As obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais 1938 – 1955.
Brasília: Câmara dos Deputados, 2008.
PASSOS, Luiz Mauro do
Carmo. Edifícios de Apartamentos: Belo Horizonte, 1939 – 1976. Belo Horizonte: AP
Cultural, 1998.
PIMENTEL, Thais. A Torre
Kubitschek. Belo Horizonte: 1989
SALGUEIRO, Heliana
Angiotti: Engenheiro Aarão Reis: o progresso como Missão; Fundação João
Pinheiro, Belo Horizonte, 1997.
SAMPAIO, Maria Ruth Amaral
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Acesso em 06/4/2014.
AGRADECIMENTOS
PUCRS – Bolsa BPA