O aprofundamento do estudo da arquitetura da habitação coletiva popular é fundamental por vários
motivos. Um dos aspectos motivadores no momento atual é o panorama brasileiro que apresenta, por um
lado, um grande déficit habitacional para diferentes grupos sociais da sociedade; e, por outro lado, um
representativo investimento por parte do governo federal por meio de programas destinados a financiar a
casa própria para esse contingente.
No caso da Arquitetura Moderna, a tipologia de habitação coletiva contribuiu, significativamente, para a
renovação de implantações urbanísticas, projetos arquitetônicos, processos construtivos, implementação
de programas habitacionais e inovação nos modos de morar. Algumas das principais propostas
urbanísticas seguiam tendências de Ebenezer Howard com a Cidade Jardim; e de Le Corbusier, com a
cidade moderna exemplificada pela Unidade de Habitação de Marselha. Seguindo as recomendações do
2o CIAM (1929, Alemanha, Unidade de Habitação Mínima), valorizava-se a célula da moradia e os
equipamentos coletivos, ou seja, funções domésticas transferidas aos equipamentos sociais e
comunitários, tais como lavanderias coletivas, creches, salas de reuniões, etc.
“A habitação tornava-se a parte mais importante da cidade, inseparável dos espaços de
recreação e demais equipamentos como assistência médica, ensino, comércio, transporte.
[...] forjavam maneiras de convivência entre seus habitantes: do controle da célula
habitacional às áreas livres. [...] O projeto desses espaços buscava ordenar as relações
sociais, a vida comunitária, afetando o sentido de privacidade e coletividade de seus
moradores.“ (SEGAWA, 2010, p. 121)
As vivências tradicionais urbanas mantêm-se presentes nos modos de viver da cidade moderna, com
algumas alterações. Conforme CERTAEU (1996, p. 42), o bairro tradicional seria uma ampliação da
habitação, onde a soma das trajetórias utilizadas pelos usuários, a partir do sua moradia, poderia se
configurar em uma superfície urbana transparente para todos ou estatisticamente mensurável. Desta
forma, o bairro e moradia teriam, cada um deles, os limites que lhes são próprios, e a taxa de controle
pessoal. O bairro seria um espaço de uma relação com o outro como ser social, onde o ato de sair de casa
e andar pela rua, seria efetuar um ato cultural.
A presença da modernidade, nas grandes cidades, oferecia uma nova possibilidade de habitar, um habitar
moderno, que incluiria uma nova visão de bairro, concentrada, talvez, em grandes edifícios de
apartamentos que, além de indicar maneiras de convivências entre seus habitantes, situavam-no num
patamar do progresso da época. Conforme Segawa, o urbanismo moderno teria criado espaços urbanos
com essas características:
“Os conjuntos residenciais forjavam maneiras de convivências entre seus habitantes: do
controle da célula habitacional às áreas livres, o projeto dos espaços buscava ordenar as
relações sociais, a vida comunitária, afetando o sentido de privacidade e de coletividade de
seus moradores. É inegável a vocação educadora desses espaços, o imprimir uma moral
inerente à doutrina do urbanismo moderno.” (SEGAWA, 2010, p. 121)
O estilo de vida metropolitano situava os habitantes no progresso crescente das cidades da metade do
século XX, implicando na oferta de um status social próprio do habitar moderno, conforme Passos:
“Morar num edifício de apartamentos parecia significar participar desse vertiginoso e
crescente progresso, enfim ter um estilo de vida metropolitano, o que se colocava
implicitamente como um fator de status social [...] A nova forma de habitar era também
vista como restritiva a imaginação e empobrecedora das experiências existenciais e
simbólicas do espaço, principalmente para as crianças.” (PASSOS, 1998, p. 25)
Ainda fazem parte desse cenário as células habitacionais, unidades mínimas de moradia, que possuíam
uma concentração das funções básicas, mas que deveriam atender às necessidades do morar moderno.
Teixeira cita a expressão Máquina de Morar como fundamental característica do morar moderno: